13.8.07

Estreia: "Torre Bela"


É no grande saco do Verão que acabam por estrear em Portugal os filmes que por razões de baixa pressão comercial apenas encontram nesta altura espaço em sala para aparecerem. "Torre Bela" poderá ter sido um desses casos - e é apenas um dos melhores "filmes" que possivelmente veremos este ano. Usei as aspas porque na verdade "Torre Bela" é um documentário, filmado em 1975 mas em processo contínuo de edição e remontagem desde então. Para além das suas estrondosas capacidades técnicas, este filme coloca-nos no meio da história, da nossa história, como raramente vi alguém fazer. Durante a convulsão dos pós-25 de Abril, "Torre Bela" mostra-nos um microcosmos de revolução, algures no Ribatejo, espelhando o romantismo com que todos aderiam a uma cerca ideia - ainda que confusa - de liberdade. Tem ainda a felicidade de mostrar a aparição de Zeca Afonso para comunicar a sua "Grândola Vila Morena", numa espécie de carimbo oficial da Revolução e oferecendo a energia que porventura aquelas pessoas precisariam para prosseguir com os seus sonhos (ver still acima, retirado do Sound+Vision). Usando apenas o olhar (o documentário não tem narrador nem outro método de contextualização da realidade; apenas uma legenda no final revelando-nos o fim daquela ocupação), vamo-nos sentindo cada vez mais próximos dos desesperos, das conquistas, das frustações, das dúvidas de todos os que tentaram executar, tal como um oficial militar a certa altura diz, a sua lei. A aparente distância que a câmara de Thomas Harlan parece ter dos acontecimentos camufla a inteligente montagem que, nesta versão em 2007, parece ser finalmente a definitiva. Noções esplendorosas de cinema sobre um dos mais ricos períodos históricos de Portugal, fazem deste "Torre Bela" uma obra incontornável neste Verão, neste ano e para sempre.